quinta-feira, 10 de abril de 2008

(O SONETO QUE SÓ ERRADO FICOU CERTO)


Um belo poema de José Gomes Ferreira*:

Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
e esta ternura dos olhos que se dão.

Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guias
e baixinho ao bafo da tua respiração
contar-te todas as minhas covardias.

Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.

Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicações de luas e saliva.

*acompanhado pela não menos bela Danae de Gustav Klimt

2 comentários:

Iveta disse...

lindo! nao conhecia...
bjs

jp disse...

Três grandes trabalhos criativos.
O poema, a pintura e...a sua feliz conjugação.